O PAPEL DA TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO NA MANIPULAÇÃO IMAGÉTICA 2

    A Revolução-Técnico-Científico-Informacional, na segunda metade do século XX, foi responsável por alterar as dinâmicas sociais de uma maneira nunca vista antes. Concomitante a isso, o surgimento da indústria cultural formou um alicerce para que essas novas tecnologias fossem vendidas, consumidas e utilizadas para a manipulação da realidade, seja ela na vida e nas relações humanas, seja ela no campo estético.

    Em primeira análise é possível estabelecer a relação entre a indústria cultural e as mudanças na dinâmica do consumo e da estética. Indústria cultural foi um termo cunhado pelos sociólogos Adorno e Horkheimer para designar as os padrões que possuem como intuito formar uma estética ou percepção comum voltadas para o consumismo na sociedade. Dessa forma, é notável que os novos padrões estéticos, que ultrapassam a esfera apenas do corpo humano, são majoritariamente voltados para a venda e parar fomentar o desejo de consumo. Analogamente, é possível observar que os ideais de beleza são comuns aos valores culturais de um tempo e de determinada sociedade e correspondem ao modo de vida da mesma. Como exemplo, a arte na Idade Média, período marcado pela grande fé na religião católica, era na maior parte das vezes sacra, e por isso buscava representar os corpos cobertos como um distanciamento do "pecado". Outro exemplo que pode ser citado é representação do corpo feminino em civilizações pré históricas, que em sua maioria buscavam representá-lo mais volumoso para simbolizar a fertilidade. Isso tudo para exemplificar que, atualmente, como o valor cultural na sociedade ocidental é voltado ao dinheiro e ao consumo, o padrão estético também é voltado para isso. E como não poderia ser diferente, esses ideais criados devem ser inatingíveis para gerar maior vontade de consumir para tentar se enquadrar no padrão estipulado pela indústria cultural.

    Em segunda análise, é fundamental relacionar o que foi exposto acima com as tecnologias atuais e a manipulação de imagem em si. Se nos séculos passados, a representação da realidade na arte não era completamente realista, o advento da fotografia e as novas tecnologias de informação forma responsáveis por realizar uma aproximação dessa representação com o real. Porém, como há a necessidade de fomentar o consumo há toda uma indústria voltada para fazer com que isso seja até mesmo extrapolado de certa forma. A representação nas campanhas publicitárias correspondem a um certo padrão, que gera a necessidade na sociedade de consumir aquele produto para alcançar esse padrão. E para que essa necessidade seja criada, a manipulação da imagem nos programas de edição (Photoshop, Facetune, entre outros), seja ela literal ou apenas dotada de elementos que fazem parte de uma semiótica, é uma ferramenta essencial no processo. Então as inovações tecnológicas se tornam aliadas nessa execução. Quando se edita ou se fabrica uma imagem, aquilo passar a fazer parte de um campo ideal e causa a falsa ilusão de que aquilo possa ser de fato atingido.

    Assim, com os fatores expostos anteriormente nesse texto, somos seduzidos a cair nessa espiral da busca pelo ideal de forma a consumir mais e mais e nunca estarmos realmente satisfeitos. Em suma, utilizamos de vários aparatos digitais para criar uma versão irreal de nós mesmos que atende apenas um padrão pré estabelecido pela indústria cultural, nos fazendo dissonar da nossa natureza criativa, inventiva, autêntica e não plastificada. Entretanto, ainda permanecemos presos a ideia de que nossos ideias estéticos são apenas um reflexo dos valores que a gente constrói e reafirma em sociedade. Portanto, ainda se estabelece um paradoxo: nos afastamos totalmente da nossa essência e criamos algo que seja realmente pós-humano ou só estamos cada vez mais presos nesse reflexo cultural da nossa própria essência?

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