SYMPHONIA-XIX

 



    O presente é viciado e solitário. A última versão do objeto comunicacional, a saber, uma luva que mapeia movimentos e os converte em som, convida o usuário à composição autoral da vida: através de sensores de movimento, altura, inclinação e pressão, o gadget vestível empurra os indivíduos que se propõe a manuseá-lo na direção de uma sinestesia motora-sonora capaz de gerar a impressão remota de companhia de uma maneira um pouco menos convencional do que uma chamada de vídeo.

    O par de luvas, acompanhado por um par de fones de ouvido, estabelece uma comunicação de mão única com o objeto intra-auricular à medida que mapeia e envia, como output sonoro, todas as movimentações da mão humana. Os 4 objetos individuais, por sua vez, só podem assumir caráter de interação contínua e infinita quando o output sonoro da luva A para o fone B é interpretado cerebralmente pela pessoa B, a qual, a partir do estímulo sonoro recém recebido, gera um segundo input motor com o próprio corpo.

    Apesar de teoricamente funcionar em apenas uma direção de estímulo, a sinfonia gerada pela movimentação é a chave para a interatividade retroativa, a qual só se materializa quando dois indivíduos reagem sensitivamente ao que estão ouvindo. Assim, o estímulo motor B sofre influência da provocação, também motora, A, e consequentemente está atrelado a uma rede psicosensitiva que flerta fortemente com elementos da teoria do caos.

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